Fotos : ASPAFF EM AÇÃO

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Incêndios florestais no Piemonte da Diamantina já comprometem unidade de conservação


O fogo chegou ao Parque Estadual das Sete Passagens (Pesp), em Miguel Calmon, e vem sendo combatido por profissionais e voluntários

Nesta época do ano, em que as altas temperaturas e o clima seco são comuns, a Chapada Diamantina revive um capítulo negativo em sua história: os incêndios florestais! Ocasionados, em geral, pela ação humana, os focos começam pequeninos, mas logo se alastram por grandes áreas, causando a devastação da fauna e flora, além de comprometer, diretamente, os mananciais, que dependem da mata nativa para a sua manutenção. O El Niño persiste e dificulta a ocorrência das chuvas tão esperadas.

No lado norte da região, especificamente no município de Jacobina, tudo começou em meados do mês passado, quando uma moradora do bairro da Bananeira, situado a poucos minutos do centro da cidade, foi queimar o lixo doméstico e perdeu o controle da situação. Pindobaçu, no Piemonte Norte do Itapicuru, também registrou focos de incêndio em novembro. O mês de dezembro mal começou e os moradores do Piemonte da Diamantina veem parte do seu patrimônio natural ser consumido, novamente, pelo fogo! Ao lado de Jacobina, Miguel Calmon, Caém e Saúde sofrem com as chamas. Em Mirangaba, voluntários, brigadistas, guardas municipais e integrantes do Corpo de Bombeiros de Juazeiro conseguiram debelar os focos no fim da tarde de terça-feira, mas mantêm o monitoramento para evitar reignição.

Linha de fogo nas proximidades da Coreia e do Piancó. Foto: Amilton Mendes
Dentre as áreas mais críticas no momento, está o Parque Estadual das Sete Passagens (Pesp), em Miguel Calmon, unidade de conservação (UC) essencial para garantir o potencial hídrico da região. No seu interior e entorno, existem várias nascentes, que desembocam em cachoeiras e alimentam rios, como o Itapicuru-Mirim, afluente da Bacia do Itapicuru. Constituindo um dos remanescentes da Mata Atlântica, o Parque se caracteriza como Refúgio Biológico, possuindo áreas com grande necessidade de preservação ambiental. A exuberante vegetação é reduto dos campos rupestres, bioma característico na Chapada e conhecido pela sua biodiversidade, e de animais ameaçados de extinção, como o macaco-prego-do-papo-amarelo.

Os principais focos de incêndio na UC estão na Grota da Dona Antônia. Conforme Zélis Pereira, gestor do Pesp e integrante da Diretoria de Unidades de Conservação do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), nessa quarta-feira, mais de 40 pessoas estiveram empenhadas no combate. “O mesmo fogo está queimando a nascente da Véu de Noiva [cachoeira mais visitada do distrito de Itaitu, pertencente a Jacobina]. Provavelmente, com a chuva da segunda-feira, um raio ocasionou o incêndio”, sinaliza.

O governo da Bahia já decretou estado de emergência em mais de duzentos municípios do estado por conta da estiagem. No momento, o território do Piemonte aguarda análise do reconhecimento pelo governo federal.

Série "Rastros da destruição". Foto: Saulo Côrte

Foto: Saulo Côrte

Foto: Saulo Côrte

Ao combate!

Voluntários da Associação de Ação Social e Preservação das Águas, Fauna e Flora da Chapada Norte (ASPAFF), acompanhados por brigadistas da mineradora Yamana Gold, com sede em Jacobina, integrantes do Corpo de Bombeiros de Juazeiro, do Inema - Regional Senhor do Bonfim, funcionários do Pesp, da agência Eco Sistema Adventure, da Prefeitura de Miguel Calmon e da Cooperativa Recicla Jacobina, além de moradores do entorno, revezam-se  nas serras entre Miguel Calmon e Itaitu.  As prefeituras também estão empenhadas no combate e têm disponibilizado veículos e profissionais.

Um helicóptero Esquilo com bambi-bucket (bolsa própria para armazenamento e lançamento de água) chegou à região ontem, 16, mas por problemas técnicos ainda não pôde ser utilizado. Cerca de 10 brigadistas de Jaguarari também desembarcaram em Itaitu para reforçar o combate nessa quarta-feira. As proximidades das cachoeiras Piancó, Arapongas/Jaqueira e das comunidades Coreia e Jabuticaba são o foco do combate. A técnica de aceiros, desbaste da mata, vem sendo utilizada para evitar que a matéria orgânica facilite a propagação do fogo. A meta é debelar os focos o mais rápido possível para seguir em direção a Caém e Saúde, onde também estão acontecendo incêndios.


Foto: Luís Cláudio

Foto: Luís Cláudio

Brigadistas partindo para o combate. Foto: Amilton Mendes

Apoio logístico do Corpo de Bombeiros de Juazeiro. Foto: Richard Silva

Unindo forças

O Ministério Público da Bahia informou, na manhã de segunda-feira, 14, que irá instaurar inquérito civil para apurar os motivos da falta de adoção de controle de queimadas, prevenção e combate na região. O órgão já disponibilizou 25 rádios de comunicação, bem como veículos e servidores para auxílio administrativo. A decisão foi anunciada em reunião ocorrida no Centro Cultural de Jacobina, quando também foi instaurado um Comitê de Gerenciamento de Crise, com membros de diversas instituições, para implantar plano de ação emergencial. Segundo o promotor Pablo Almeida, o incêndio foi originado na área da mineradora da cidade por ação ilegal de garimpeiros que invadem o local para explorar ouro sem autorização.

De acordo com Paulo Henrique Muricy, associado da ASPAFF e ex-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Itapicuru, a ocasião está sendo oportuna para cobrar do estado um protocolo de combate a incêndios. “Queremos mostrar a necessidade de ampliar o Parque Estadual das Sete Passagens e a política atual de combate, que prioriza áreas com risco de morte, em que há presença de comunidades, e unidades de conservação. Algumas áreas no entorno do Pesp são tão ricas quanto às do Parque e precisam ser preservadas!”, comenta.

Para o promotor Pablo Almeida, é preciso que a população se mobilize mais e contribua, diante da dimensão do problema. “As principais dificuldades são de recursos materiais. Principalmente apoio aéreo com força total. Somente o helicóptero Esquilo, já foi um ganho de logística, pois ele conseguiu pousar em todos os lugares com foco de incêndio e transportar mantimentos para os brigadistas - o que não havíamos conseguido nos últimos dois dias. Ou seja, somente agora temos um equipamento ideal para o terreno! Ontem o fogo não foi completamente debelado por ausência do bambi. Se ele funcionar hoje, a quinta-feira será o dia ‘D’ do combate!”, pontua.

Reunião de Planejamento. Foto: Richard Silva

Faça a sua parte!

Na porção central da Chapada Diamantina, foi no mês de setembro que os primeiros focos apareceram, em localidades de Andaraí, Mucugê e Palmeiras, especialmente nos Gerais do Vieira, trilha certa para quem faz o famoso trekking do Pati. Lençóis, Ibicoara, Seabra e Itaetê também foram assolados pelo fogo, sendo que, em alguns lugares, os focos ainda são intensos. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) estima entre 10 e 20% de destruição no interior do Parque e em outras unidades de conservação do seu entorno. Uma ação civil pública, ajuizada pelas Defensorias da Bahia e da União, requereu fornecimento imediato de material e pessoal para controlar o fogo na Chapada. Dentre as determinações, estão veículos, kits de combate a incêndio, apoio aéreo e brigadistas.

“Se a partir desta quinta-feira, a gente observar que não surtiu o efeito desejado no combate aos incêndios, vamos ter que alegar o descumprimento da liminar, além de judicializar novamente. Hoje será um divisor de águas! Como a seca vem sendo frequente na região, será muito importante que esse comitê se perpetue. Novos pontos poderão surgir a qualquer momento. Se todos estiverem cientes de como agir, tudo ficará muito mais fácil”, explica a defensora pública da Comarca de Jacobina, Diana Suedde.

Segundo o geólogo Carlos Victor Rios, que integra o Comitê de Gerenciamento de Crise, as informações preliminares, obtidas a partir da análise de imagens aéreas, apontam para mais de 700 hectares de destruição no Piemonte da Diamantina.  “Esperamos que esse número não aumente nos próximos dias!”, enfatiza.

As equipes estão precisando de ajuda com alimentos, água, equipamentos de proteção e combate, a exemplo de botas e abafadores. Nos municípios de Miguel Calmon e Jacobina, as secretarias de meio ambiente estão recebendo doações. Neste último, o Ginásio de Esportes e a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) também são pontos de coleta.

Clique aqui e participe do financiamento coletivo através da plataforma online Kickante. Ajude na prevenção e no combate aos incêndios que assolam a região. 

DADOS BANCÁRIOS (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL)
 AG. 0634  |  C/C. 28.715-5
 OPERAÇÃO 013
 ASPAFF CHAPADA NORTE
 CNPJ 09.596.440/0001-28



Turismo & Natureza

Alguns municípios do Piemonte da Diamantina fazem parte do roteiro turístico da Chapada Norte. Suas dezenas de cachoeiras, grutas, sítios arqueológicos, espaços propícios para a prática do ecoturismo e esportes de aventura, a exemplo do rapel, da escalada, do mountain bike, motocross e voo livre, atraem turistas de diversas regiões do país, bem como estrangeiros. Apesar de o turismo ainda estar se desenvolvendo na região, opções não faltam para os visitantes. Além do Parque Estadual das Sete Passagens, o distrito de Itaitu, em Jacobina, conhecida como a “Cidade do Ouro” ou “Cidade-Presépio”, é a principal escolha dos aventureiros, com seu clima bucólico, rodeado por serras e cachoeiras. A mais famosa é a Véu de Noiva: 60m de altura e ótimo poço para banho. Também é chamada de Cachoeira do Clarindo pelos nativos, em homenagem ao antigo dono das terras.

Divulgação: Assessoria de Comunicação da ASPAFF Chapada Norte

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